Quarenta anos atrás, no auge do movimento feminista, as mulheres eram encorajadas por ativistas políticas a queimarem seus sutiãs, numa declaração simbólica de independência e poder. Hoje, as mulheres voltaram a descartar seus sutiãs, encorajadas por profissionais de saúde, por razões que têm menos a ver com poder e mais a ver com a prevenção de câncer de mama.
Fazendo a Conexão
A ideia de que o uso de sutiã é relacionado com o desenvolvimento de câncer de mama foi levantada por Sidney Ross Singer e Soma Grismaijer no livro Vestida para Matar: Entre Câncer de Mama e o Sutiã, publicado em 1995. O livro discute um estudo conduzido na Universidade de Harvard em 19911(publicado no EuropeanJournalofCancerandClinicalOncology), que demonstrou que mulheres pré-menopausa que não usavam sutiã tinham metade do risco de contrair câncer de mama, comparado as mulheres que usavam sutiã.
Ao conduzirem sua própria pesquisa com 5.000 mulheres entre 1991 e 1993, Singer e Gismaijer descobriram que o risco de câncer de mama aumentava dramaticamente nas mulheres que usavam sutiã mais de 12 horas por dia. Seus outros achados incluem:
- Mulheres que usavam sutiã 24 horas por dia tinham 75% (3 a cada 4) de chance de desenvolverem câncer de mama.
- Mulheres que usavam sutiã mais de 12 horas por dia, mas não usavam para dormir, tinham 14% (1 a cada 7) de chance de desenvolverem câncer de mama.
- Usar sutiã menos de 12 horas por dia cortava o risco de desenvolver câncer de mama para 1 em 152 (0.7%)
- Mulheres que nunca ou raramente usavam sutiã tinham risco de desenvolver câncer de mama de 1 em 168 (0.6%)
No geral, mulheres que usavam sutiã 24 horas por dia aumentaram suas chances de desenvolver câncer de mama em 125x, comparado às mulheres que nunca ou raramente usavam sutiãs.
Restrições e Razões
Naturalmente, números como estes deram o que falar. A indústria de lingerie rapidamente tratou de rejeitar os resultados, mas a ciência começou a trabalhar para descobrir quais os mecanismos exatos pelos quais os sutiãs aparentemente aumentavam os riscos de câncer de mama nas mulheres. As suspeitas originais são as mesmas até hoje.
Entre os que reconhecem a correlação entre sutiã e câncer de mama, é aceita a teoria de que sutiãs apertados restringem os gânglios linfáticos em volta do seio e nas axilas, impedindo toxinas de serem processadas e eliminadas pelo sistema linfático. Toxinas acumuladas em qualquer parte do corpo aumentam o risco de câncer.
Dr. Michael Schachter do Schachter Center For Complementary Medicine explica da seguinte forma:
“Mais de 85% do fluido linfático que vem dos seios é drenado nos gânglios linfáticos (também chamados de linfonodos) das axilas. O restante é drenado nos gânglios localizados ao longo do esterno (osso peitoral). Sutiãs e outras roupas apertadas podem impedir o fluxo de todo esse fluido linfático. A natureza do sutiã, o quão apertadoé e a duração do seu uso, influenciam o grau de bloqueio da drenagem linfática. Portanto, o uso prolongado do sutiã pode contribuir para o desenvolvimento de câncer no seio devido a interrupção da drenagem linfática de modo que toxinas fiquem presas nos seios. ”
O fluxo ininterrupto da drenagem por todo o sistema linfático é crucial para o corpo desintoxicar-se rapidamente de lixo celular e quaisquer outras substâncias cancerígenas perigosas como PCB (policlorobifenilos), DDT, dioxinas e benzenos, todos poluentes comuns na era industrial e aos quais somos expostos diariamente há anos.
O grau e a rapidez com a qual o sistema linfático consegue drenar e eliminar toxinas depende muito na quantidade de movimento corporal necessário para estimular o movimento dos fluidos. O sistema linfático não funciona sozinho. Ele entra em movimento através da respiração profunda(que age como uma bomba), saltos no trampolim/cama elástica e através de exercícios físicos, dança ou caminhadas.
Quando os seios estão presos em um sutiã estruturado, eles não estão livres para movimentar-se em sincronia com o resto do corpo e estimular os linfonodos a sua volta a eliminarem toxinas. Esta restrição do movimento é evidente em muitas mulheres que ficam com vincos na pele, muitas vezes vermelhos, ao longo da área da costura do sutiã, que costuma ser mais rígida. Estes vincos às vezes são visíveis inclusive através da roupa da mulher.
Outra preocupação que acompanha a restrição dos seios é o aumento de temperatura. Os seios são órgãos externos, queassim como os testículos masculinos, devem ficar pendurados e longe do tronco, pois precisam manter uma temperatura mais baixa que a do resto do corpo. Alguns cânceres são sensíveis à temperatura. Mudança de temperatura no seio pode alterar funções hormonais e aumentar o risco de câncer de mama. Paralelamente, é sabido há muitos anos que homens que usam calças apertadas regularmente podem atrapalhar a produção de testosterona e até a própria fertilidade devido ao aumento da temperatura dos testículos.
Um Segundo Olhar
Os detratores de Singer e Gismaijer foram rápidos em apontar que as pesquisas não levaram em consideração os históricos de câncer na família, nem tampouco estatísticas como peso, dieta, hábitos de exercício e outros fatores de risco. O estudo Vestida para Matar foi um estudo epidemiológico, que olhou um número grande de casos e derivou conclusões matemáticas que foram comparadas a um volume enorme de dados. O estudo demonstra a correlação entre o uso de sutiã e câncer de mama, mas não necessariamente comprova que o uso do sutiã é a causa do surgimento do câncer. Mesmo assim, uma correlação forte como o estudo comprovou não pode ser ignorada (principalmente porque o risco de câncer de mama devido ao mau uso do sutiã, é 4 a 12 vezes maior do que o risco de fumantes contraírem câncer do pulmão) e pode ser uma pista valiosa em determinar a verdadeira causa do câncer de mama.
Estudos recentes comprovam a tese do estudo original. Um estudo de 2009 na China 2 comprovou que o risco de câncer de mama era 60% menor em mulheres que não dormiam de sutiã. Em 2011, um estudo feito pelo Departamento de Saúde Pública da Venezuela 3concluiu que o uso de sutiã tem influência primária em doença fibrocística dos seios e câncer de mama e que qualquer sutiã que deixa marcas ou vincos vermelhos no corpo apresentam riscos, principalmente os que empurram os seios para cima e os que tem arame de sustentaçãoinserido no bojo. Um estudo na Escócia com 2.500 mulheres 4também demonstrou correlação entre o tempo de uso e o tipo de sutiã, com o câncer de mama.
Recentemente, surgiu outra preocupação com o uso de sutiã e câncer. Neste caso especificamente,com sutiãs com aro de sustentação, pois o metal inserido no tecido torna-se uma antena capaz de ampliar e manter frequências eletromagnéticas, radiação de telefones celulares e wi-fi. Ou seja, seu sutiã pode absorver e intensificar radiação, como qualquer outro metal no corpo. Este é o princípio por trás dos pontos metálicos de acupuntura, que geram um estimulo elétrico mais duradouro para a região do corpo onde está colocado.
No caso do sutiã, o problema é que o metal do aro entra em contato com 2 pontos de reflexo neuro-linfático do corpo. O ponto abaixo do seio direito é conectado com o fígado e vesícula biliar e o esquerdo com o estômago. A hiperestimulação destes pontos através de radiação prolongada não só aumenta o risco de mutações cancerígenas nos seios, como também no fígado, vesícula biliar e estômago. O médico e quiroprata Dr. John D. Andre explica da seguinte forma:
“Os reflexos, como todos os pontos de acupuntura, obedecem a lei da estimulação. No começo do estímulo, causam um aumento na função associada. Se o estímulo for contínuo, haverá sedação do ponto e a diminuição da função associada. Se a mulher mantém um aro de metal bem em cima destes pontos de reflexo, com o tempo, vai atrapalhar o funcionamento dos circuitos associados àqueles pontos: fígado, vesícula e estômago.
Mudanças e Escolhas
Não há necessidade de entrar em pânico com nenhuma das informações compartilhadas aqui. A ideia é que bem informados e cientes dos riscos, podemos fazer melhores escolhas no dia a dia. Levar um estilo de vida saudável, com alimentação rica em verduras e exercício físico diário, é fundamental para reduzir os riscos de todos os tipos de câncer. Além disso, com relação ao uso de sutiã, as mulheres podem escolher fazer as seguintes mudanças – que mal não fazem -que podem ajudar a prevenir problemas futuros:
- Reduza o tempo diário em que usa sutiã
- Procure tirar o sutiã assim que chegar em casa
- Nunca durma de sutiã
- Se você tem seios pequenos, considere usar de um top bem folgado, ao invés de um sutiã apertado
- Se o seu sutiã deixa marcas vermelhas ou vincos na sua pele, ele está muito apertado.
- Use apenas sutiãs SEM aro metálico de sustentação (existem modelos com aros de plástico também). Para remover os aros dos seus sutiãs basta fazer um furo na costura embaixo do bojo e puxá-los para fora.
- Nunca carregue seu celular no bolso da camisa, bolso de calça ou dentro do seu sutiã. Ao falar no celular, use sempre viva voz e fone de ouvido, mantendo o telefone longe do corpo.
Se existe um mito sobre o uso de sutiã, é que esta peça de vestiário feminino mantem os seios firmes e imunes à lei da gravidade!! Não é verdade. Todos os seios caem e perdem volume devido a proporção de gordura para tecido e à fatores como amamentação e idade. Experimente a liberdade de viver sem esta peça!! Mesmo que ainda não haja consenso científico quanto ao papel do sutiã na causalidade do câncer de mama, todas as mulheres podem se beneficiar de mais drenagem linfática no organismo e da redução de radiação à sua volta.
Este texto é uma tradução livre resumida do texto publicado pelo Dr. HabibSadeghi
